O convidado de hoje diz ser brasileiro por opção e preside a Câmara de Comércio e Indústria Brasil China (CCIBC) que é a única legitimada pelo acordo que, desde 1988, mantêm com o CCPIT - Conselho Chinês para a Promoção de Comércio Internacional, órgão do Conselho de Estado da China, que têm entre suas funções, o reconhecimento das Câmaras bilaterais. Da mesma forma, a Federação das Câmaras de Comércio Exterior, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Conselho de Câmaras de Comércio Exterior reconhecem a CCIBC como a única Câmara bilateral Brasil China.
A China conta com 1,3 bilhão de consumidores, PIB estimado de quase US$ 9 trilhões que faz da economia chinesa a 4ª maior do mundo e que vem apresentando crescimentos anuais em torno de 10%. Cerca de 70% do PIB chinês provém de comércio internacional que cresce em média 30% ao ano. A renda per capita anual é de US$ 3,6 mil. A dívida externa representa 14% PIB chinês e as reservas internacionais são de aproximadamente US$ 734 bilhões. Em 2004, o comércio bilateral entre Brasil e China totalizou US$ 12,4 bilhões, um incremento de 55% em relação ao ano anterior. A China está em franco desenvolvimento sustentado, com uma taxa de juros anual de 2,5% e uma inflação inferior a 2,4%.
O Blog Ética nos Negócios conversa hoje com o CEO da CCIBC, Charles Tang.
Blog: Inicialmente, queremos conhecer o cidadão Charles Andrew Tang. Você pode nos contar um pouco sobre você?
Charles Tang: Nasci em Shanghai, fui criado nos EUA, Hong Kong e Brasil. Vivi, estudei e trabalhei em vários países, inclusive na Europa. Pude participar da fase do milagre econômico do Brasil quando, pelo Banco de Boston tive a missão de implantar leasing no Brasil nos anos 70. Nesta época, a maioria dos executivos internacionais, como aconteceu comigo, se apaixonavam pelo Brasil, um país que crescia como a China atual e aonde não existia violência. A maioria procurava empregos novos quando recebiam ordens de transferência a outros paises e em pouco tempo conseguiam oportunidades melhores.
Após estabelecer a 1a empresa de leasing no Brasil, o ex Ministro Mario Henrique Simonsen me solicitou para montar o Bozano Simonsen Leasing. Dr. Joseph Safra - a Safra Leasing, Dr. Flavio Pentagna Guimarães, a BMG Leasing. No final tinha criado empresas de leasing para onze grupos financeiros.
Meu CV resumido é: presidente binacional da Câmara de Comércio & Indústria Brasil-China; membro do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial; Bacharel pela Cornell University; Curso de Bacharel em Direito, Universidade Estácio de Sá; Curso de Doutorado, Paris V, Sorbornne; foi Professor Assistente da Universidade Estácio de Sá; Membro do Conselho Internacional do Governo de Wuhan e Conselheiro Econômico do Governo do Município de Jilin.
Blog: Muitas pessoas desconhecem o que é uma Câmara de Comércio e Indústria. Você pode comentar sobre as responsabilidades, atribuições, atividades e objetivos deste organismo? E, quais são as contribuições relevantes para o comércio e o desenvolvimento dos nossos países?
Charles Tang: A CCIBC foi criada em 1986 apos uma reunião para qual fui convocado pelo atual embaixador chinês, o Exmo. Sr. Chen Duqing, profundo conhecedor e admirador do Brasil, quando era jovem secretário em Beijing, com o então Ministro de Relações Exteriores da China e em seguida, Vice Primeiro Ministro. Nesta reunião foi sugerida a fundação de uma câmara bilateral que pudesse construir a ponte de amizade entre o povo chinês e o gigante da América do Sul.
Na época, poucos no Brasil se interessavam pela China e vice-versa. Tivemos o privilegio de ajudar em muitos projetos de empresas brasileiras que se instalaram na China e empresas chinesas que vieram ao Brasil. Em 2002 tivemos o orgulho de ter realizado a primeira feira de promoção comercial brasileira na China desde 1984. Pelas inúmeras palestras que proferimos em todo o Brasil, o nosso portal eletrônico e revista "Visão da China", bem como trabalho na área cultural, de cinema e de esportes, podemos dizer que tivemos sucesso e criar maior compreensão e amizade entre os povos dos dois gigantes.
Blog: A China é conhecida como um dos Tigres Asiáticos. Como surgiu essa expressão e o que ela significa?
Charles Tang: Foram apelidados de tigres asiáticos as nações que lutaram agilmente e ferozmente para enriquecer suas nações a partir dos anos 60 implementando um modelo econômico de prosperidade através de ganhos por exportação. Provaram ao mundo que o caminho de pobreza a riqueza não é nem muito longo ou demorado e nem tão difícil como imaginado.
Blog: Os especialistas divulgam que os países com maiores perspectivas de crescimento, desenvolvimento e potencial de consumo são a China, a Índia e o Brasil. E, que o Brasil poderá ser uma Superpotência Mundial. Você concorda com essas afirmações? Por quê? Como o Brasil pode aproveitar todo esse potencial declarado aos quatro cantos do mundo? Uma das formas é em relação ao tratamento dado aos investimentos estrangeiros? E, quais são as demais?
Charles Tang: Gostaria de responder esta pergunta com o artigo que escrevi para a Folha de São Paulo intitulado Para Um Brasil Próspero, publicado na coluna de Tendências & Debates, segunda feira, 19 de junho de 2006, onde afirmo que "o Brasil têm mais condições do que a China ou Japão de ser o maior tigre de exportações do mundo e ser uma superpotência econômica".
Blog: Falando ainda no potencial brasileiro. Especificamente, quais são as oportunidades do Brasil no comércio de seus produtos para a China? Existem estimativas de valores? Quais os produtos brasileiros de maior interesse das empresas e da população chinesa? O turismo faz parte disso?
Charles Tang: O comércio bilateral dos dois países passou de R$ 1.54 bilhões em 1999 a mais de dez vezes este valor em 2006 e esta estimada para chegar ao volume expressivo de US$ 35 bilhões em 2010. Além dos produtos estratégicos que a China necessita para seu crescimento continuado e para alimentação do seu povo de 1.37 bilhões, cada vez mais nichos de mercado se abrem para bens manufaturados do Brasil.
Quanto a turismo, 20 milhões de chineses, cada vez mais prósperos, estão viajando mais para conhecer o mundo. Com as dificuldades de visitar os EUA pós “11 setembro”, os chineses, que esperam receber mais de 64 milhões de turistas em 2010, podem fazer uma grande contribuição para a receita de turismo do Brasil.
Todavia enfrentam os seguintes problemas: a) a demora na concessão de vistos na embaixada e consulado na China sobrecarregados e sem recursos suficientes para atender a demanda crescente. b) Enquanto o acordo de turismo assinado pelo Ministro Valfrido dos Mares Guia ainda não esta totalmente operativo, existem vários preconceitos errôneos contra a vinda de delegações que estariam vindo ao Brasil para passeio. Ora enquanto gastem suas divisas no nosso país, estão ajudando. c) Um receio de situação ultrapassada onde nossos diplomatas acreditam que os chineses ainda querem imigrar ilegalmente da China cada vez mais próspera ao Brasil estagnado economicamente. O fato é que muitos chineses que emigraram estão voltando à China em função das oportunidades econômicas daquele país.
Blog: O chamado Custo Brasil acaba, de certa forma, tirando a competitividade desses empresários. Existem fórmulas para minimizar esses efeitos?
Charles Tang: Respondo com meus artigos O Modelo Econômico de Pobreza e Por Um Modelo Econômico de Riqueza publicados pela Folha de São Paulo, na coluna Tendências & Debates, em 14 de março e 20 de novembro de 2006, respectivamente.
Blog: Um jargão muito popular diz: “Vamos fazer um negócio da China”. Essa expressão já é ou será uma realidade bilateral? Você pode nos explicar?
Charles Tang: O Brasil realizou, nestes últimos seis anos, um gigantesco negócio da China, ao lucrar em cima dos Chineses, mais de US$ 8 bilhões em superávit nas trocas com aquele país.
Blog: Há um grande paradigma no Brasil em relação à China. Muitos atores econômicos alegam que os produtos chineses estão acabando com alguns mercados no Brasil, em razão da competição injusta imposta por esses produtos. Isso é uma realidade? O que pode ser feito? Como o meio empresarial pode tirar proveito disso?
Charles Tang: O empresário brasileiro que não conhece a China, a teme, e após conhecer melhor o país começa a enxergá-lo como fonte de múltiplas oportunidades para negócios da China!
Os que ainda pedem por salvaguardas e outras proteções artificiais devem entender que não irão impedir a expansão da China e a dos países de menor custo. Devemos sim adotar uma atitude de visão, coragem, e modernidade exigindo que nosso governo nos ofereça condições para a competitividade. Retirar os juros exorbitantes, a fauna exótica de 61 tributos escorchantes, a política cambial desfavorável, e modernizar nossa CLT que data de 1943. Respondo também com meu artigo Mais Do Que Salvaguardas, publicado pela Folha de São Paulo, na Terça feira, 15 de agosto de 2006.
Blog: E os pequenos e médios empresários têm alguma chance de combater essa situação e competir em igualdade de condição?
Charles Tang: Muitas empresas brasileiras de médio porte estão lucrando com a China. Com a ABIT Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção estamos tentando desenvolver programas onde os pequenos e médios podem ser ajudados a baratear os seus custos de produção com nosso auxílio em importar matéria primas, acessórios, máquinas e equipamentos baratos e de boa qualidade daquele país. Estamos também querendo levar a moda brasileira, dominada por pequenas e médias empresas, para participarem da semana de moda internacional de Beijing e de Shanghai.
Blog: Muito se fala em ética nos negócios. Na sua visão, quais são as bases éticas para um comércio internacional saudável?
Charles Tang: O respeito mútuo.
Blog: Você pode citar as principais particularidades, diferenças e semelhanças da prática da Ética nos Negócios na China e no Brasil em relação às empresas?
Charles Tang: Algumas práticas desonestas na China têm como penalidade a pena de morte por execução.
Blog: Recentemente lançamos a 1ª Pesquisa sobre Código de Ética Corporativo realizada no Brasil. Essa inédita pesquisa tem como principal objetivo motivar empresários e executivos na elaboração e adoção deste que, para nós, é o instrumento de maior relevância na gestão do que chamamos de Tripla Responsabilidade Corporativa, ou seja, a responsabilidade ética, social e ambiental que devem ser inseparáveis e até indistinguíveis, pois é o exercício dessas responsabilidades que conduzirá uma empresa à sustentabilidade. Para você, qual a importância do Código de Ética para uma empresa? Isso contribui para a melhoria dos negócios e acaba influenciando nos resultados?
Charles Tang: Desde meus tempos de aluno na “Cornell University” aprendemos que a responsabilidade corporativa em ética, social e ambiental, além de importantes para devolver um pouco dos benefícios conseguidos da sociedade de volta a sociedade, é também lucrativa uma vez que melhora e facilita os negócios, aumenta o tamanho do mercado, preserva melhor os recursos naturais e de matéria prima.
Blog: Essa pesquisa também nos revelou que a cultura e a prática corporativa na adoção do Código de Ética, apesar de haver evoluído muito, ainda se comporta de maneira tímida no Brasil. Como é essa cultura nas empresas chinesas? A bolsa de valores de lá exige a adoção deste instrumento como faz a NYSE – Bolsa de Nova Iorque?
Charles Tang: A cultura corporativa chinesa está cada vez mais consciente desta necessidade impulsionada pela filosofia do atual governo liderado pelo Presidente Hu Jintao que lançou a política da "Sociedade Harmoniosa". Esta filosofia prioriza a maior inclusão social do povo chinês com distribuição de riqueza conseguida pela sociedade chinesa de forma mais eqüitativa. O desenvolvimento do interior da China na sua política de "Go West" para desenvolver as cidades não costeiras do centro e oeste da China, menos avançadas que as costeiras. Cada vez mais a regulamentação nas bolsas de valores chinesas está sendo fortalecida.
Blog: Para o presidente da Câmara do Comércio e Indústria Brasil China, o que é Responsabilidade Social? Como as empresas chinesas tratam esse assunto no dia-dia dos seus negócios em seu próprio país e no comércio exterior? Qual a importância desta questão? Há algo a ser melhorado?
Charles Tang: Anos atrás recebi carta do Presidente do "Prince of Wales Business Association" que prega a responsabilidade social para empresas. Temos responsabilidade de poder retribuir a sociedade o que lucramos dela. Isto se faz necessário num país como o nosso que carece de oportunidades e ainda não têm uma cultura de filantropia. Acredito que devemos apoiar educação, treinamento, melhoria no meio ambiente e acima de tudo o respeito à sociedade e ao ambiente pela nossa breve passagem na terra. Assim poderemos reduzir a violência dos excluídos, e manter uma evolução sustentada.
Blog: E, em relação a Responsabilidade Ambiental. Existe algum diferencial das empresas em atuação na China em relação àquelas em atuação no Brasil? O que pode ser conquistado neste sentido?
Charles Tang: Muitos projetos que podem criar riquezas e empregos estão emperrados pelo zelo, às vezes excessiva, de proteção ao meio ambiente. Na China, o meio ambiente é importante tanto que o país é signatário do Acordo do Kioto. Mas a China prioriza a eliminação da fome humana.
E foi esta prioridade que levou o governo chinês a conseguir a maior conquista de direitos humanos da historia da humanidade - a de tirar da pobreza nada menos do que 400 milhões de pessoas para viverem com maior dignidade participando das conquistas econômicas do país em somente duas décadas.
Aqui no Brasil nossas leis refletem o contrário. Se matar uma pessoa existe a possibilidade de fiança. Se matar um pássaro para saciar a fome, poderá estar cometendo um crime inafiançável.
Blog: Qual deverá ser a contribuição das empresas no efetivo combate aos efeitos devastadores – tanto ambientais como econômicos – do aquecimento global?
Charles Tang: As empresas deveriam entender que não podemos cometer suicídio coletivo das gerações futuras dos nossos filhos e netos. Devemos contribuir para corrigir os danos causados. Os créditos de carbono servem para aliviar os danos, mas o mais importante é que temos de impedir a depredação.
Blog: Na china, como os governos e as empresas vem tratando esse assunto?
Charles Tang: Elas se enquadram dentro das prioridades da filosofia da “Sociedade Harmoniosa”.
Blog: O que você entende por sustentabilidade nos negócios? O que realmente deve ser realizado e buscado?
Charles Tang: Ao destruir o ambiente de negócios por métodos antiéticos, em não preservar e conservar nosso meio ambiente e em não zelar pelo social, teremos uma desagregação da sociedade que não daria sustentabilidade aos negócios e as empresas.
Blog: Queremos agradecer imensamente a participação do Charles Andrew Tang – presidente da CCIBC – Câmara do Comércio e Indústria Brasil China no Blog Ética nos Negócios. Obrigado Charles Chang!
3 comentários:
EU QUERO PARABENIZAR MEU GRANDE AMIGO CHARLES TANG
Parabéns Charles Tang, preciso de informações de como estudar mandarim na China, sou advogado e preciso atuar em empresas que exigem o conhecimento do idioma. Obrigado.
meu email elysiopontes@hotmail.com
Assisti a uma entrevista de Charles Andrew Tang e fiquei bastante motivado com as explicações e um melhor entendimento da China e como funcionam os mercados.
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