quinta-feira, 29 de março de 2007

Marco Bologna da TAM

O serviço prestado por essa empresa proporciona a alguns poucos clientes um tremendo frio na barriga misturado com o sentimento de medo, porém para muitos, é uma sensação única, bastante prazerosa e um dos sonhos da humanidade que foi realizado pela primeira vez, há 100 anos por um brasileiro, pois afinal de contas: Você Nasceu Para Voar!

Essa empresa é 100% nacional, fundada no início da década de 60 e se tornando a maior companhia do setor com quase 50% de market share, cobrindo toda a extensão do território nacional, transportando em 2006 22,5 milhões de passageiros nas 48 cidades de sua operação e no mercado internacional 2,5 milhões em seus 11 destinos além daqueles realizados através de acordos comerciais com as maiores companhias do mundo.

O sucesso dessa companhia se deve em parte pela herança de rotas de três tradicionais empresas que acabaram deixando de existir por má administração, mas sua maior performance se deve a competência e a paixão na qual seu fundador conduziu os negócios da empresa até 2001, ano de sua morte. Esse homem foi o saudoso Comandante Rolim e até hoje seu DNA está impregnado na filosofia e nas ações corporativas da TAM que atualmente conta com 100 aeronaves (Airbus A330, A320, A319, MD-11 e Fokker-100) e com mais de 13.000 funcionários.

Nosso convidado de hoje é Marco Antonio Bologna, presidente da TAM desde Janeiro de 2004 e o responsável por conduzir e manter a companhia na liderança do mercado de aviação no Brasil.

Blog: O Blog Ética nos Negócios agradece a presença do CEO da TAM. É uma imensa satisfação recebe-lo. Como sempre fazemos, queremos iniciar esta entrevista conhecendo a pessoa do Marco Antonio Bologna. Fale de você!

Marco Bologna: Sou paulistano, palmeirense, motociclista.

Blog: Conte-nos sobre sua carreira profissional e suas experiências até chegar a cabine de comando da TAM como CEO.

Marco Bologna: Sou engenheiro de produção pela Escola Politécnica da USP, formado em 1978. Possuo extensão em Serviços Financeiros pela Manchester Business School - UK, em 1988.
Trabalhei de novembro de 1977 a março de 2001 no mercado financeiro, passando pelo Banco Francês e Brasileiro, Lloyds Bank, Chase Manhattan, Banco Itamarati, Banco SRL e Banco Inter American Express, de onde saí como Diretor Superintendente.
Em março de 2001, atendendo ao honroso convite do fundador da TAM, comte. Rolim Adolfo Amaro, vim para a companhia para ser Vice-Presidente de Finanças e Gestão e Diretor de Relações com o Mercado. Em 19 de janeiro de 2004, assumi a presidência da companhia.

Blog: O Comandante Rolim implantou a Política da TAM que se baseia em duas regras fundamentais: 1ª Regra - O cliente sempre tem razão e a 2ª Regra - Se o cliente alguma vez estiver errado, releia a 1ª regra e também os 7 Mandamento da TAM que resume a filosofia na qual a companhia deve conduzir os negócios. Seu estilo, competência e paixão pela empresa acabaram revolucionando o mercado de aviação no Brasil em função, principalmente, das ações impostas pela TAM que surpreendiam e encantavam seus clientes. Exemplo disso é o tapete vermelho e a presença do comandante da aeronave cumprimentando todos os passageiros quando do embarque. O mundo mudou, o mercado também e hoje existe até empresa de baixo custo. Como esses valores e princípios funcionam na prática no dia-a-dia da TAM e qual sua importância? E, como a TAM consegue preservar suas raízes neste novo cenário?

Marco Bologna: A forte cultura corporativa legada de nosso fundador, Comandante Rolim Adolfo Amaro, permeia todos os níveis da Companhia e continua a nortear as ações da Administração em seu dia-a-dia. Essa cultura é evidenciada por toda nossa linha de frente e integra os treinamentos oferecidos aos novos colaboradores de forma que toda a companhia atue em consonância com as melhores práticas e nosso diferencial de serviços.
Nossa prioridade estratégica para o futuro continua sendo consolidar e ampliar a liderança no mercado doméstico de passageiros, obtendo rentabilidade. No mercado internacional, a TAM irá aproveitar a oportunidade apresentada em função do novo cenário competitivo para consolidar sua atual posição de liderança nesse segmento. Buscamos essas metas através da oferta de serviços com relação valor-preço superior, da continuidade da redução de custos e do melhor aproveitamento do capital empregado.

Blog: O Blog Ética nos Negócios publicou um post com o seguinte título: O Risco da Empresa Líder de Mercado demonstrando uma sutil ameaça que somente paira sobre o ambiente corporativo das líderes. Para chegar ao topo do mercado é necessário um conjunto de fatores e, sobretudo ações corporativas de excelência que são incentivadas pelo desejo natural de ser a "número 1". Por muitas vezes, as empresas líderes acabam, digamos assim, deitando em berço esplendido e correndo o risco desnecessário de poder ver desmoronar tudo o que foi orquestrado e apoderado com muito empenho, dedicação e determinação, e sabemos que, reconquistar o espaço perdido é muito mais difícil e requer maiores investimentos. Quais os antídotos da TAM para ficar imune a esse risco?

Marco Bologna: Conforme ressaltamos na apresentação do Relatório Anual de 2006, chegamos aos 30 anos de existência da Companhia sem perder de vista iniciativas alinhadas aos ganhos de eficiência e de produtividade para manter serviço diferenciado com preço competitivo. Esses são os pilares que dão a sustentação ao nosso crescimento e que nos motivam a perseguir sempre os melhores padrões de gestão ética que assegurem a perenidade de nossa Companhia. Ainda como legado de nosso fundador, Comandante Rolim Amaro, temos como um de nossos mandamentos A Humildade é Fundamental que, na verdade, nos disciplina a medir constantemente a qualidade de nossos serviços pela satisfação dos clientes. E, conseqüentemente, a buscar sempre o aprimoramento de nosso atendimento.

Blog: A TAM cumpriu e superou praticamente todas as suas Metas Operacionais para 2006 com exceção da redução de custos, especialmente em função dos aumentos no preço dos combustíveis de aviação. Comente sobre esse resultado, quais os principais objetivos para 2007 e as perspectivas de negócio na aviação nacional e internacional.

Marco Bologna: A TAM encerrou o exercício de 2006 com receita bruta total de R$ 7,7 bilhões, aumento de 30,3% em relação a 2005. Nos mercados doméstico e internacional, a empresa transportou 27,9% mais passageiros em relação ao ano anterior, totalizando 25 milhões de pessoas. O segmento de cargas continuou avançando e contribuiu para o resultado positivo da empresa, com crescimento de receita em 19,5%. O Programa Fidelidade – com 3,8 milhões de associados e mais de 4,1 milhões de bilhetes distribuídos – também se consolidou como fonte de receitas para TAM e as parcerias com o programa reverteram em R$ 207,2 milhões, aumento de 143,7% em faturamento. O lucro líquido apurado em 2006 foi de R$ 556 milhões. Em US GAAP (padrão contábil dos EUA), o lucro foi de R$ 808,8 milhões.
Para 2007, estimamos crescimento do mercado doméstico entre 10% e 15%. Estamos prevendo participação no mercado brasileiro (“market share”) acima de 50% e taxa de ocupação dos aviões na casa dos 70%. No segmento internacional, buscaremos aumentar nossas operações e ampliar sua participação entre as empresas brasileiras que voam ao exterior. Além do já anunciado vôo a Milão, pleitearemos mais uma nova freqüência de longo curso neste ano e avaliaremos atentamente as oportunidades que surgirem nesse mercado.
A perspectiva de crescimento contínuo do mercado doméstico aliada às oportunidades que se apresentam no segmento internacional nos faz acreditar que a aviação comercial no Brasil tem forte potencial para manter sua trajetória de ascensão observada nos últimos anos.

Blog: O Brasil vive, desde o ano passado, um caos nos aeroportos e essa situação impacta nos resultados e acaba maculando a imagem das companhias aéreas. A que se deve essa inusitada situação? O que se deve ser feito por todos os envolvidos? O que os clientes devem esperar para os próximos meses?

Marco Bologna: Os episódios mostraram que há deficiências a serem resolvidas e gargalos relacionados à infra-estrutura a eliminar. Entendemos que o desconforto vivido pelos passageiros nos aeroportos nos últimos meses foi resultado de um momento atípico da aviação civil em que diversos fatores adversos agiram simultaneamente e evoluíram para uma situação que acreditamos ser inaceitável para todas as partes envolvidas. Mas acreditamos que essas questões estão encaminhadas e todas as pontas dessa cadeia de serviços estão empenhadas em resolvê-las o mais rapidamente possível.
Ainda dentro deste contexto, olhando pelo lado positivo, observamos que o aumento de número de pessoas viajando de avião e o uso mais intenso do avião como transporte pela sociedade brasileira vêm contribuindo para uma maior popularização do transporte aéreo. Porém, é claro que essa expansão reflete nos aeroportos e em todos os serviços a eles relacionados.

Blog: Os especialistas alegam que o duopólio do mercado de aviação brasileiro pode prejudicar o consumidor, mas na prática, não é isso que notamos: novas empresas estão entrando no mercado e a disputa por passageiros nunca esteve tão acirrada com inúmeras promoções. Qual sua opinião a esse respeito? O que nós, consumidores, podemos esperar?

Marco Bologna: Entendemos que o mercado brasileiro de aviação civil é pulverizado em termos de participantes. Atualmente existem 14 empresas operando, há liberdade de preços, liberdade para voar, as regras são democráticas. A dinâmica concorrencial tem contribuído para que não haja elevação de preços e para uma busca constante de eficiência do transporte. Portanto, não concordamos que haja monopólio ou duopólio no setor.
Quanto ao fato de termos atualmente no Brasil duas empresas com posições relevantes de mercado, se observarmos o mapa da aviação no mundo, veremos que esse cenário se repete na maioria dos mercados. É assim na França, na Alemanha e mesmo nos Estados Unidos. Por ser de capital intensivo, nosso negócio precisa de escala. A cadeia produtiva também tem essa característica. Duas ou três empresas fornecem aviões, duas vendem o combustível, uma única fornece o aeroporto, outras poucas fornecem peças etc. Com relação aos consumidores, acreditamos que prevalecerá um ambiente de concorrência saudável que beneficiará os passageiros considerando que as empresas ampliaram suas frotas levando em conta o crescimento da demanda.

Blog: Ano após ano, a TAM vem conquistando prêmios. Fale sobre os de maior destaque. Qual o peso dos Diferenciais da TAM nesses reconhecimentos?

Marco Bologna: A TAM foi eleita em março de 2007 a Companhia Aérea do Ano pela revista especializada Avião Revue, premiação que elege a mais completa companhia aérea brasileira com base em avaliações feitas por um júri composto por 14 especialistas que avaliaram itens como frota, manutenção dos aviões, imagem da companhia, índices operacionais, serviço de bordo, entre outros.
Fomos honrados ainda com os seguintes prêmios no decorrer de 2006: As Empresas que mais Respeitam o Consumidor e Excelência em Serviços ao Cliente, premiações conferidas pela revista Consumidor Moderno na categoria Companhias Aéreas; O Melhor de Viagem e Turismo – na categoria Melhor Companhia Aérea de 2006, pela revista Viagem e Turismo, da Editora Abril; Marcas de Cofiança na categoria Companhia Aérea, apurada a partir de pesquisa do Ibope/Solutions; As Empresas Mais Admiradas no Brasil, na categoria Melhor Empresa Aérea Brasileira em 2006, pela revista Carta Capital; e Melhora Companhia Aérea pela revista Aero Magazine, entre outras.
Consideramos conquista relevante a entrada de nossa companhia para o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da Bovespa, em conseqüência da constante preocupação da empresa com a implementação de boas práticas de responsabilidade social e ambiental presentes no mundo moderno.
Também destacamos a escolha da TAM como melhor companhia em práticas de Governança Corporativa da América Latina pelo IR Global Rankings, a partir de critérios como responsabilidade de prestação de contas da administração, conselho de administração, proteção de minoritários, estrutura de capital e transparência.

Blog: Uma das maiores responsabilidades de uma companhia aérea seja em relação as vidas humanas, principalmente em razão de sua atividade fim. Apesar das estatísticas comprovarem que o avião é o meio de transporte mais seguro do mundo, os acidentes, geralmente, são fatais. Como a TAM exerce essa sua responsabilidade?

Marco Bologna: A segurança de vôo constitui importante mandamento da TAM legado pelo Comandante Rolim (Mais importante que o cliente é a segurança) e é a base para se operar a Companhia como organização de prestação de serviços em transportes aéreos de forma segura e eficiente.
A TAM segue rigorosamente normas e padrões estabelecidos pelas autoridades aeronáuticas brasileiras, subordinadas ao Comando da Aeronáutica - e pelas organizações internacionais -ICAO (International Civil Aviation Organization) e IATA (International Air Transport Association). É filiada aos mais importantes órgãos de segurança de vôo da aviação civil no mundo, entre eles a FSF (Flight Safety Foundation), a maior organização mundial não-governamental de safety.
A Companhia participa ativamente na coordenação do Comitê Regional de Segurança de Vôo (RCG) para as Américas, da IATA. Além disso, a Companhia segue as regulamentações da FAA (Federal Aviation Administration), órgão que controla a aviação civil norte-americana e do NTSB (National Transportation Safety Bord) e DoT (Department of Transportation), atendendo plenamente aos seus rigorosos padrões de qualificação para operar no espaço aéreo norte-americano.
A TAM está permeada em todos os seus níveis, pela cultura “safety”, descrita como: “a geratriz de todo um elenco e prevenção indispensável à preservação de recursos humanos e materiais” e que adota como princípio que “a Companhia tem que ser segura como um todo, onde a participação de cada um é vital e imprescindível”.
Em julho de 2006, três meses antes de iniciarmos nosso vôo diário para Londres, tornamo-nos integrante efetiva do United Kingdom Flight Safety Committee (UKFSC), associação de entidades e profissionais dedicados ao aprimoramento da segurança de vôo na aviação comercial no Reino Unido. No mesmo ano, passamos a membro do steering committee do Emergency Response and Planning Task Force (ERPTF) da IATA.
Em janeiro de 2007, recebemos a certificação IOSA (IATA Operational Safety Audit), o mais completo e aceito atestado internacional em segurança operacional. Essa certificação inclui oito aspectos principais para uma operação segura em uma companhia aérea: controle operacional; operações de vôo; despacho operacional de vôo; engenharia e manutenção das aeronaves; operações de cabine, ‘ground handling’ (check-in e serviço de solo); operações de carga e security. Esses itens englobam mais de 700 requisitos que necessitam ser integralmente atendidos para se obter a certificação IOSA.

Blog: Vamos começar a falar sobre atuação responsável. Como são conduzidas as questões relacionadas a Ética nos Negócios na TAM? Qual a importância desse tema para o sucesso de uma empresa?

Marco Bologna: Acreditamos que a ética está diretamente vinculada ao objetivo de assegurar a perpetuidade da companhia. É por esse motivo que a TAM lançou em 2006 o Código de Conduta Ética, reunindo e documentando os princípios, valores, os compromissos e as crenças para uma atuação empresarial ética, abrangendo as partes interessadas tais como: empregados, fornecedores, consumidores/clientes, comunidade, governo e acionistas minoritários.
Além disso, como mais uma ação da campanha de Ética e Governança Corporativa, a TAM estabeleceu uma parceria com uma empresa norte-americana para exercer o papel de ouvidoria (interna e externa). Com este novo serviço, batizado de Canal de Ética TAM, todos os Empregados TAM do Brasil e dos demais países onde a empresa atua podem externar suas preocupações relacionadas à ética pela internet ou por telefone.

Blog: O Comandante Rolim dizia que “Ser participativo é uma questão de respeito, de solidariedade e de amizade. Ser participativo é uma questão de amor". O que significa Responsabilidade Social para a TAM?

Marco Bologna: A TAM tem um senso muito claro das suas obrigações sociais e das relações com a comunidade. Além de cumprir com seus deveres legais e estar rigorosamente em dia com suas obrigações, a empresa preza por agir de forma exemplar no relacionamento com a sociedade, tendo como prática de gestão aspectos relacionados à ética e a transparência para com todos os públicos com os quais se relaciona.

Blog: Fale sobre os principais Projetos Sociais da TAM?

Marco Bologna: A TAM mantém uma política de responsabilidade social baseada em duas vertentes: ações externas (através de investimento social, doações de passagens aéreas para projetos sociais, parcerias com instituições ligadas ao Terceiro Setor, tratamentos de saúde e transporte de órgãos, além da doação para entidades carentes de itens remanescentes das aeronaves e advindos de campanhas de arrecadação junto aos seus colaboradores) e ações internas (direcionadas aos seus colaboradores).
Desde sua implantação, diversos projetos foram e continuam sendo apoiados pelo programa. Entre eles, estão a organização social brasileira Faça Parte, as atividades do Brazil Foundation, o Instituto Ayrton Senna, o Projeto Próximo Passo, o Projeto Escravo Nem Pensar, a Associação Asas de Socorro, o EcoTAM e o TAM Show.
Em 2005, o programa foi remodelado sob a denominação Sob as Asas da TAM e ganhou nova dimensão, inclusive com a publicação do primeiro Balanço Social consolidando todas as ações da Companhia realizadas pela empresa em 2004.
Como resultado da reestruturação e com o objetivo de concentrar esforços de forma planejada e estratégica, os investimentos sociais de 2006 passaram a ser orientados sob o foco na área temática da Cidadania e realizados por meio de apoio a projetos enquadrados nos temas de Geração de Trabalho e Renda, Desenvolvimento Local Sustentável e Meio Ambiente e que atingiram mais de 250 pessoas diretamente através de capacitação, conscientização e auxilio no desenvolvimento local e na sustentabilidade das comunidades em que os projetos estão situados.
A vertente das ações de responsabilidade social voltadas para o público interno, constituído pelos funcionários diretos, estagiários, prestadores de serviços e outros profissionais que atuam no dia-a-dia da companhia, é focada principalmente em comunicação, preservação da saúde dos profissionais e inclusão social.

Blog: A TAM também é uma empresa preocupada com o meio ambiente. Cite os programas de maior destaque?

Marco Bologna: A TAM tem desenvolvido diversas ações ambientais em especial no Centro Tecnológico em São Carlos, onde a empresa realiza a manutenção de toda sua frota de aviões. Nele, são realizadas ações como segregação na origem e reaproveitamento de resíduos, tratamento de efluentes, plantio em áreas de reserva legal e manutenção de viveiro.
Além disso, todos os processos de licenciamento e monitoramentos ambientais para a renovação das licenças de operação da TAM buscam as boas práticas de preservação do meio ambiente.
Com relação aos resíduos sólidos, em toda a TAM eles são separados por classes e para cada tipo de resíduo são emitidas licenças específicas e dado um destino apropriado, conforme determinações dos órgãos ambientais. Todos os recicláveis são encaminhados para venda e a renda é revertida para o Programa Estilo de Vida.
Trabalhando na preservação da natureza também fora da companhia, a TAM apóia o núcleo de fauna do IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – desde 2005, colaborando no projeto de repatriação da fauna silvestre por meio do transporte de animais aos seus respectivos habitats naturais.
O meio ambiente é um de nossos focos na área de Responsabilidade Social para 2007. Nós voltaremos aos projetos de proteção florestal e reflorestamento, também incentivando pesquisas na área do desenvolvimento sustentável. Mobilizaremos recursos humanos e financeiros em iniciativas de transformação da realidade do país sempre voltadas ao desenvolvimento sustentável.

Blog: Falando em meio ambiente, um dos assuntos que estão na agenda de qualquer empresa responsável é o aquecimento global. Quais os planos da TAM para contribuir com a redução das emissões dos gases de efeito estufa? A TAM já estuda uma maneira de tentar neutralizar parte ou a totalidade das emissões de suas aeronaves?

Marco Bologna: Esta é uma questão muito importante para o nosso setor. Estamos acompanhando e participando ativamente das discussões deste tema.

Blog: Como você comentou, a TAM acaba de integrar o cobiçado e invejado ndice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) que contempla as empresas que apresentam alto grau de comprometimento com sustentabilidade e a responsabilidade social. O que isso representa para a TAM?

Marco Bologna: A TAM passou a integrar no último dia 1º de dezembro o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bovespa na carteira que vigorará até 30 de novembro de 2007, num reconhecimento de nossa constante preocupação com a implementação das boas práticas de responsabilidade social e ambiental presentes no mundo moderno. Além do ISE, também estamos presente no site Em Boa Companhia da Bovespa, no qual constam todas as novidades e projetos que as empresas listadas nessa Bolsa têm desenvolvido nesta área, demonstrando nosso comprometimento para um futuro melhor para todos.

Blog: O que significa Sustentabilidade para a TAM? Qual o caminho que sua companhia esta trilhando para alcançar esse objetivo que é o sonho de toda empresa-cidadã?

Marco Bologna: O conceito de sustentabilidade para nós significa trilhar o caminho que assegure a perpetuidade da TAM. Após o reconhecimento dado pelo Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bovespa, investimento em ouvidoria interna e externa, ações de preservação do meio ambiente, estabelecimento de um código de ética e investimento em programas sociais, além de outras ações, acreditamos que estamos preparados para dar novos passos no caminho trilhado por algumas das melhores empresas do mundo rumo à responsabilidade social.

Blog: A TAM não investe somente em projetos sociais e ambientais. Ela também incentiva a cultura. Conte pra gente sobre o Museu Asas De Um Sonho.

Marco Bologna: Em 1996, preocupados em preservar para as futuras gerações a história da aviação, o comandante Rolim e seu irmão João Amaro tiveram a idéia de criar o Museu Asas de um Sonho, que conta a história da aviação, homenageando seus criadores, construtores, mecânicos, heróis e pilotos. O objetivo é preencher uma lacuna da preservação da história nacional. O museu foi aberto ao público em 12 de novembro de 2006, como parte das comemorações oficiais do centenário de Santos Dumont.
O Museu vem ampliando sua coleção com a aquisição de aeronaves, muitas vezes esquecidas por seus proprietários, contando com o apoio de empresas de porte internacional e amigos que doam de aviões a materiais históricos. Atualmente, possui 74 aeronaves próprias entre modelos civis, comerciais, militares e experimentais, construídos entre as décadas de 20 e 60, dos quais 32 modelos estão em exposição. Construído junto ao Centro Tecnológico de São Carlos, no interior de São Paulo, numa área de 86 mil m2, é o maior museu privado do mundo mantido por uma companhia de aviação e o maior museu do Brasil com aeronaves em condições de vôo, incluindo algumas raridades da 2ª Guerra Mundial.
Para assegurar uma das principais características do Museu, que é manter as aeronaves em condições de vôo como desejava o comandante Rolim, a TAM mantém em São Carlos suas oficinas de restauração e reparo, onde trabalham mecânicos, ferreiros, eletricistas, marceneiros, entre outros, coordenados por um grupo de engenheiros.
Passados dois meses da sua inauguração, mais de 11.000 visitantes já passaram pelo Museu, que estabeleceu como tarefa restaurar outras 42 aeronaves para exposição na sua segunda fase que vai contemplar também inúmeras peças pertinentes à aviação, tais como: cenários, motores aeronáuticos, auditório, biblioteca e inúmeros objetos iconográficos.
Além disso, a TAM desenvolve outras ações a favor da cultura, destacando-se o apoio à revista
Almanaque Brasil, publicação mensal dedicada ao resgate e preservação da cultura popular brasileira que é distribuída nos vôos nacionais e internacionais da TAM.

Blog: Quais as dicas que você poderia dar ao jovem que busca seu primeiro emprego?

Marco Bologna: Acredito que hoje, além do conhecimento técnico da área, algumas características são fundamentais ao profissional. Na TAM, definimos competências que norteiam nossas contratações. São qualidades para as quais os jovens também devem estar atentos, logo em suas primeiras atividades, e que fazem a diferença no ambiente profissional. No nosso caso, a base é o “espírito de servir”, que nada mais é do que buscar constantemente a satisfação dos clientes com ações e soluções. É ter atitude e demonstrar envolvimento, sempre com entusiasmo e preservando o bom humor.

Blog: Para finalizar esse nosso bate papo, com o anúncio da aquisição da Nova Varig pela Gol, a TAM irá rever seus planos para o curto e médio prazos? Porque? O que este negócio irá significar para o setor de avião brasileiro?

Marco Bologna: A compra da Nova Varig pela Gol tira um fator de incerteza no mercado brasileiro. O controle passado era de um fundo americano, considerado não estratégico, o que gerava uma dúvida em quem seria o novo controlador. Isto é bom para o mercado dissipando qualquer especulação de novos controladores. Além disso, sacramenta o aval do governo e órgãos controladores que este é um setor que requer escala de operação.
Portanto temos, agora, duas empresas eficientes, competentes, em alto nível de governança corporativa, lucrativas e ferrenhas concorrentes que detém mais de 90% do mercado, demonstrando claramente, que as discussões de desconcentração de mercado não são lógicas e não seguem a dinâmica deste setor em todo o mundo. Na Europa, temos companhias que tem quase 100% do mercado (Air France, British Airways, Lufthansa, Ibéria, TAP, Alitália, etc). Na Ásia (Singapore, Quantas, etc) e nos EUA (por região, American, United, Delta, etc).
É um setor normalmente duopolizado ou pouco fragmentado. E, em todos estes mercados e, inclusive no Brasil, cada vez mais, as tarifas são mais acessíveis gerando crescimento de tráfego e novos passageiros para o setor.
Fico feliz que o governo está permitindo esta concentração e entendendo a dinâmica saudável do mercado, onde as empresas estão saudáveis, competitivas, estimuladoras de tráfego, cumpridoras de suas obrigações. Óbvio que, agora, falta a infra-estrutura acompanhar esta dinâmica.
Para a TAM é excelente, porque teremos maior racionalidade competitiva. Ambas as empresas tem compromissos de governança, responsabilidade social e tem que entregar resultados para seus acionistas.

Blog: Obrigado por ter aceito nosso convite. Foi uma honra para o Blog Ética nos Negócios recebê-lo.

Marco Bologna: Eu que agradeço.

Perfil CEO da TAM
Nome: Marco Antonio Bologna
Idade: 51 anos
Aniversário: 22/Abr
Uma grande emoção: Filhos
Um sonho realizado: Filhos
Uma meta futura: Ter mais tempo com a família
A maior paixão: A família
Melhor livro: Blue Ocean
Filme inesquecível: O Aviador
Pontos fortes: Otimismo, iniciativa e simplicidade
Pontos fracos: Ansiedade e impaciência

sexta-feira, 9 de março de 2007

Charles Tang da Câmara Brasil China

O convidado de hoje diz ser brasileiro por opção e preside a Câmara de Comércio e Indústria Brasil China (CCIBC) que é a única legitimada pelo acordo que, desde 1988, mantêm com o CCPIT - Conselho Chinês para a Promoção de Comércio Internacional, órgão do Conselho de Estado da China, que têm entre suas funções, o reconhecimento das Câmaras bilaterais. Da mesma forma, a Federação das Câmaras de Comércio Exterior, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Conselho de Câmaras de Comércio Exterior reconhecem a CCIBC como a única Câmara bilateral Brasil China.

A China conta com 1,3 bilhão de consumidores, PIB estimado de quase US$ 9 trilhões que faz da economia chinesa a 4ª maior do mundo e que vem apresentando crescimentos anuais em torno de 10%. Cerca de 70% do PIB chinês provém de comércio internacional que cresce em média 30% ao ano. A renda per capita anual é de US$ 3,6 mil. A dívida externa representa 14% PIB chinês e as reservas internacionais são de aproximadamente US$ 734 bilhões. Em 2004, o comércio bilateral entre Brasil e China totalizou US$ 12,4 bilhões, um incremento de 55% em relação ao ano anterior. A China está em franco desenvolvimento sustentado, com uma taxa de juros anual de 2,5% e uma inflação inferior a 2,4%.

O Blog Ética nos Negócios conversa hoje com o CEO da CCIBC, Charles Tang.

Blog: Inicialmente, queremos conhecer o cidadão Charles Andrew Tang. Você pode nos contar um pouco sobre você?
Charles Tang: Nasci em Shanghai, fui criado nos EUA, Hong Kong e Brasil. Vivi, estudei e trabalhei em vários países, inclusive na Europa. Pude participar da fase do milagre econômico do Brasil quando, pelo Banco de Boston tive a missão de implantar leasing no Brasil nos anos 70. Nesta época, a maioria dos executivos internacionais, como aconteceu comigo, se apaixonavam pelo Brasil, um país que crescia como a China atual e aonde não existia violência. A maioria procurava empregos novos quando recebiam ordens de transferência a outros paises e em pouco tempo conseguiam oportunidades melhores.
Após estabelecer a 1a empresa de leasing no Brasil, o ex Ministro Mario Henrique Simonsen me solicitou para montar o Bozano Simonsen Leasing. Dr. Joseph Safra - a Safra Leasing, Dr. Flavio Pentagna Guimarães, a BMG Leasing. No final tinha criado empresas de leasing para onze grupos financeiros.
Meu CV resumido é: presidente binacional da Câmara de Comércio & Indústria Brasil-China; membro do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial; Bacharel pela Cornell University; Curso de Bacharel em Direito, Universidade Estácio de Sá; Curso de Doutorado, Paris V, Sorbornne; foi Professor Assistente da Universidade Estácio de Sá; Membro do Conselho Internacional do Governo de Wuhan e Conselheiro Econômico do Governo do Município de Jilin.
Blog: Muitas pessoas desconhecem o que é uma Câmara de Comércio e Indústria. Você pode comentar sobre as responsabilidades, atribuições, atividades e objetivos deste organismo? E, quais são as contribuições relevantes para o comércio e o desenvolvimento dos nossos países?
Charles Tang: A CCIBC foi criada em 1986 apos uma reunião para qual fui convocado pelo atual embaixador chinês, o Exmo. Sr. Chen Duqing, profundo conhecedor e admirador do Brasil, quando era jovem secretário em Beijing, com o então Ministro de Relações Exteriores da China e em seguida, Vice Primeiro Ministro. Nesta reunião foi sugerida a fundação de uma câmara bilateral que pudesse construir a ponte de amizade entre o povo chinês e o gigante da América do Sul.
Na época, poucos no Brasil se interessavam pela China e vice-versa. Tivemos o privilegio de ajudar em muitos projetos de empresas brasileiras que se instalaram na China e empresas chinesas que vieram ao Brasil. Em 2002 tivemos o orgulho de ter realizado a primeira feira de promoção comercial brasileira na China desde 1984. Pelas inúmeras palestras que proferimos em todo o Brasil, o nosso portal eletrônico e revista "Visão da China", bem como trabalho na área cultural, de cinema e de esportes, podemos dizer que tivemos sucesso e criar maior compreensão e amizade entre os povos dos dois gigantes.
Blog: A China é conhecida como um dos Tigres Asiáticos. Como surgiu essa expressão e o que ela significa?
Charles Tang: Foram apelidados de tigres asiáticos as nações que lutaram agilmente e ferozmente para enriquecer suas nações a partir dos anos 60 implementando um modelo econômico de prosperidade através de ganhos por exportação. Provaram ao mundo que o caminho de pobreza a riqueza não é nem muito longo ou demorado e nem tão difícil como imaginado.
Blog: Os especialistas divulgam que os países com maiores perspectivas de crescimento, desenvolvimento e potencial de consumo são a China, a Índia e o Brasil. E, que o Brasil poderá ser uma Superpotência Mundial. Você concorda com essas afirmações? Por quê? Como o Brasil pode aproveitar todo esse potencial declarado aos quatro cantos do mundo? Uma das formas é em relação ao tratamento dado aos investimentos estrangeiros? E, quais são as demais?
Charles Tang: Gostaria de responder esta pergunta com o artigo que escrevi para a Folha de São Paulo intitulado Para Um Brasil Próspero, publicado na coluna de Tendências & Debates, segunda feira, 19 de junho de 2006, onde afirmo que "o Brasil têm mais condições do que a China ou Japão de ser o maior tigre de exportações do mundo e ser uma superpotência econômica".
Blog: Falando ainda no potencial brasileiro. Especificamente, quais são as oportunidades do Brasil no comércio de seus produtos para a China? Existem estimativas de valores? Quais os produtos brasileiros de maior interesse das empresas e da população chinesa? O turismo faz parte disso?
Charles Tang: O comércio bilateral dos dois países passou de R$ 1.54 bilhões em 1999 a mais de dez vezes este valor em 2006 e esta estimada para chegar ao volume expressivo de US$ 35 bilhões em 2010. Além dos produtos estratégicos que a China necessita para seu crescimento continuado e para alimentação do seu povo de 1.37 bilhões, cada vez mais nichos de mercado se abrem para bens manufaturados do Brasil.
Quanto a turismo, 20 milhões de chineses, cada vez mais prósperos, estão viajando mais para conhecer o mundo. Com as dificuldades de visitar os EUA pós “11 setembro”, os chineses, que esperam receber mais de 64 milhões de turistas em 2010, podem fazer uma grande contribuição para a receita de turismo do Brasil.
Todavia enfrentam os seguintes problemas: a) a demora na concessão de vistos na embaixada e consulado na China sobrecarregados e sem recursos suficientes para atender a demanda crescente. b) Enquanto o acordo de turismo assinado pelo Ministro Valfrido dos Mares Guia ainda não esta totalmente operativo, existem vários preconceitos errôneos contra a vinda de delegações que estariam vindo ao Brasil para passeio. Ora enquanto gastem suas divisas no nosso país, estão ajudando. c) Um receio de situação ultrapassada onde nossos diplomatas acreditam que os chineses ainda querem imigrar ilegalmente da China cada vez mais próspera ao Brasil estagnado economicamente. O fato é que muitos chineses que emigraram estão voltando à China em função das oportunidades econômicas daquele país.

Blog: O chamado Custo Brasil acaba, de certa forma, tirando a competitividade desses empresários. Existem fórmulas para minimizar esses efeitos?
Charles Tang: Respondo com meus artigos O Modelo Econômico de Pobreza e Por Um Modelo Econômico de Riqueza publicados pela Folha de São Paulo, na coluna Tendências & Debates, em 14 de março e 20 de novembro de 2006, respectivamente.
Blog: Um jargão muito popular diz: “Vamos fazer um negócio da China”. Essa expressão já é ou será uma realidade bilateral? Você pode nos explicar?
Charles Tang: O Brasil realizou, nestes últimos seis anos, um gigantesco negócio da China, ao lucrar em cima dos Chineses, mais de US$ 8 bilhões em superávit nas trocas com aquele país.
Blog: Há um grande paradigma no Brasil em relação à China. Muitos atores econômicos alegam que os produtos chineses estão acabando com alguns mercados no Brasil, em razão da competição injusta imposta por esses produtos. Isso é uma realidade? O que pode ser feito? Como o meio empresarial pode tirar proveito disso?
Charles Tang: O empresário brasileiro que não conhece a China, a teme, e após conhecer melhor o país começa a enxergá-lo como fonte de múltiplas oportunidades para negócios da China!
Os que ainda pedem por salvaguardas e outras proteções artificiais devem entender que não irão impedir a expansão da China e a dos países de menor custo. Devemos sim adotar uma atitude de visão, coragem, e modernidade exigindo que nosso governo nos ofereça condições para a competitividade. Retirar os juros exorbitantes, a fauna exótica de 61 tributos escorchantes, a política cambial desfavorável, e modernizar nossa CLT que data de 1943. Respondo também com meu artigo Mais Do Que Salvaguardas, publicado pela Folha de São Paulo, na Terça feira, 15 de agosto de 2006.
Blog: E os pequenos e médios empresários têm alguma chance de combater essa situação e competir em igualdade de condição?
Charles Tang: Muitas empresas brasileiras de médio porte estão lucrando com a China. Com a ABIT Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção estamos tentando desenvolver programas onde os pequenos e médios podem ser ajudados a baratear os seus custos de produção com nosso auxílio em importar matéria primas, acessórios, máquinas e equipamentos baratos e de boa qualidade daquele país. Estamos também querendo levar a moda brasileira, dominada por pequenas e médias empresas, para participarem da semana de moda internacional de Beijing e de Shanghai.
Blog: Muito se fala em ética nos negócios. Na sua visão, quais são as bases éticas para um comércio internacional saudável?
Charles Tang: O respeito mútuo.
Blog: Você pode citar as principais particularidades, diferenças e semelhanças da prática da Ética nos Negócios na China e no Brasil em relação às empresas?
Charles Tang: Algumas práticas desonestas na China têm como penalidade a pena de morte por execução.
Blog: Recentemente lançamos a 1ª Pesquisa sobre Código de Ética Corporativo realizada no Brasil. Essa inédita pesquisa tem como principal objetivo motivar empresários e executivos na elaboração e adoção deste que, para nós, é o instrumento de maior relevância na gestão do que chamamos de Tripla Responsabilidade Corporativa, ou seja, a responsabilidade ética, social e ambiental que devem ser inseparáveis e até indistinguíveis, pois é o exercício dessas responsabilidades que conduzirá uma empresa à sustentabilidade. Para você, qual a importância do Código de Ética para uma empresa? Isso contribui para a melhoria dos negócios e acaba influenciando nos resultados?
Charles Tang: Desde meus tempos de aluno na “Cornell University” aprendemos que a responsabilidade corporativa em ética, social e ambiental, além de importantes para devolver um pouco dos benefícios conseguidos da sociedade de volta a sociedade, é também lucrativa uma vez que melhora e facilita os negócios, aumenta o tamanho do mercado, preserva melhor os recursos naturais e de matéria prima.
Blog: Essa pesquisa também nos revelou que a cultura e a prática corporativa na adoção do Código de Ética, apesar de haver evoluído muito, ainda se comporta de maneira tímida no Brasil. Como é essa cultura nas empresas chinesas? A bolsa de valores de lá exige a adoção deste instrumento como faz a NYSE – Bolsa de Nova Iorque?
Charles Tang: A cultura corporativa chinesa está cada vez mais consciente desta necessidade impulsionada pela filosofia do atual governo liderado pelo Presidente Hu Jintao que lançou a política da "Sociedade Harmoniosa". Esta filosofia prioriza a maior inclusão social do povo chinês com distribuição de riqueza conseguida pela sociedade chinesa de forma mais eqüitativa. O desenvolvimento do interior da China na sua política de "Go West" para desenvolver as cidades não costeiras do centro e oeste da China, menos avançadas que as costeiras. Cada vez mais a regulamentação nas bolsas de valores chinesas está sendo fortalecida.
Blog: Para o presidente da Câmara do Comércio e Indústria Brasil China, o que é Responsabilidade Social? Como as empresas chinesas tratam esse assunto no dia-dia dos seus negócios em seu próprio país e no comércio exterior? Qual a importância desta questão? Há algo a ser melhorado?
Charles Tang: Anos atrás recebi carta do Presidente do "Prince of Wales Business Association" que prega a responsabilidade social para empresas. Temos responsabilidade de poder retribuir a sociedade o que lucramos dela. Isto se faz necessário num país como o nosso que carece de oportunidades e ainda não têm uma cultura de filantropia. Acredito que devemos apoiar educação, treinamento, melhoria no meio ambiente e acima de tudo o respeito à sociedade e ao ambiente pela nossa breve passagem na terra. Assim poderemos reduzir a violência dos excluídos, e manter uma evolução sustentada.
Blog: E, em relação a Responsabilidade Ambiental. Existe algum diferencial das empresas em atuação na China em relação àquelas em atuação no Brasil? O que pode ser conquistado neste sentido?
Charles Tang: Muitos projetos que podem criar riquezas e empregos estão emperrados pelo zelo, às vezes excessiva, de proteção ao meio ambiente. Na China, o meio ambiente é importante tanto que o país é signatário do Acordo do Kioto. Mas a China prioriza a eliminação da fome humana.
E foi esta prioridade que levou o governo chinês a conseguir a maior conquista de direitos humanos da historia da humanidade - a de tirar da pobreza nada menos do que 400 milhões de pessoas para viverem com maior dignidade participando das conquistas econômicas do país em somente duas décadas.
Aqui no Brasil nossas leis refletem o contrário. Se matar uma pessoa existe a possibilidade de fiança. Se matar um pássaro para saciar a fome, poderá estar cometendo um crime inafiançável.
Blog: Qual deverá ser a contribuição das empresas no efetivo combate aos efeitos devastadores – tanto ambientais como econômicos – do aquecimento global?
Charles Tang: As empresas deveriam entender que não podemos cometer suicídio coletivo das gerações futuras dos nossos filhos e netos. Devemos contribuir para corrigir os danos causados. Os créditos de carbono servem para aliviar os danos, mas o mais importante é que temos de impedir a depredação.
Blog: Na china, como os governos e as empresas vem tratando esse assunto? Charles Tang: Elas se enquadram dentro das prioridades da filosofia da “Sociedade Harmoniosa”.
Blog: O que você entende por sustentabilidade nos negócios? O que realmente deve ser realizado e buscado?
Charles Tang: Ao destruir o ambiente de negócios por métodos antiéticos, em não preservar e conservar nosso meio ambiente e em não zelar pelo social, teremos uma desagregação da sociedade que não daria sustentabilidade aos negócios e as empresas.
Blog: Queremos agradecer imensamente a participação do Charles Andrew Tang – presidente da CCIBC – Câmara do Comércio e Indústria Brasil China no Blog Ética nos Negócios. Obrigado Charles Chang!

segunda-feira, 5 de março de 2007

Resultado Pesquisa do Blog

QUAL A MAIOR QUALIDADE DE UM CEO?
  • foco em resultados: 8,0%

  • competência: 8,0%

  • determinação: 0,0%

  • um exemplo para todos: 58,5%

  • saber tratar as pessoas: 0,0%

  • integridade de conduta: 25,5%

  • motivar funcionários: 0%

Quase 60% dos participantes acreditam que o CEO tem como principal qualidade ser um exemplo para todos e a integridade de conduta foi a segunda mais votada.

A nova pesquisa já está aí ao lado. Participe!

sexta-feira, 2 de março de 2007

Antonio Vives do BID

O entrevistado de hoje no Blog Ética nos Negócios é um cidadão espanhol, graduado em Engenharia Química pela Universidade Central da Venezuela, mestrado em Administração Industrial e doutorado em Finanças (Finanças das Empresas e Mercados de Capital) na Universidade Carnegie Mellon em Pittsburgh, Pennsylvania, EUA. Foi professor na Universidade Simon Bolivar e na Escola de Pós-Graduação em Administração do IESA na Venezuela e também lecionou nas universidades Carnegie Mellon, George Washington e Virginia Tech nos Estados Unidos. Além disso, trabalhou como engenheiro de refinaria e consultor em administração.
É especialista em Responsabilidade Social Corporativa, financiamento de infra-estrutura, desenvolvimento de mercados financeiros e financiamento de microempresas e PME em economias emergentes. Participa freqüentemente de conferências internacionais como orador.
Escreveu um livro sobre avaliação financeira de empresas e publicou vários artigos sobre responsabilidade social das empresas, gestão financeira e infra-estrutura privada e está escrevendo um outro livro sobre a responsabilidade social das empresas nos mercados emergentes.
Há 26 anos trabalha no Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Seu nome é Antonio Vives, executivo responsável pelo Departamento de Desenvolvimento Sustentável e coordenador-geral da Iniciativa Interamericana de Capital Social, Ética e Desenvolvimento.
Blog: É uma satisfação muito grande receber no Blog Ética nos Negócios um dos maiores e mais respeitados especialistas em Responsabilidade Social Corporativa na atualidade. Gostaríamos de iniciar essa conversa com seu breve relato sobre o que é, o que faz e como opera o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Antonio Vives: O BID é uma instituição que financia o desenvolvimento econômico e social dos países da América Latina através de operações de empréstimo e de assistência técnica aos governos nacionais e locais, e ao setor privado. Além disso, promove a adoção de boas práticas no desenvolvimento econômico através de atividades de pesquisa e disseminação.
Blog: Você poderia fazer o mesmo em relação ao Departamento de Desenvolvimento Sustentável (DDS) e a Iniciativa Interamericana de Capital Social, Ética e Desenvolvimento?
Antonio Vives: Dentro do BID, o Departamento de Desenvolvimento Sustentável é encarregado de preparar as políticas setoriais da instituição e de produzir as estratégias de apoio do Banco nos diferentes setores em que opera, dentre eles podemos citar: meio ambiente, mercados financeiros, micro, pequenas e médias empresas, responsabilidade social corporativa, populações indígenas, gênero e modernização do estado. Além do mais, tem a função de pesquisar e disseminar as boas práticas nestes setores.
Dentro do Departamento, a Iniciativa de Ética e Capital Social, promove a aplicação de princípios éticos tanto no setor público como no setor privado e o desenvolvimento do capital social nas comunidades, principalmente através de atividades de capacitação e disseminação.
Blog: Qual sua definição para Responsabilidade Social Corporativa? Seria possível você traçar um pequeno histórico sobre esse assunto, desde o seu surgimento até os dias atuais?
Antonio Vives: Toda empresa opera num determinado contexto e cujos elementos influem na própria empresa: os acionistas que aportam os recursos, os credores que financiam, os trabalhadores com seu esforço pessoal, os clientes que adquirem seus bens e serviços, a comunidade que dá a empresa permissão para operar em seu meio, o governo que define as regras gerais de funcionamento e o meio ambiente que lhe proporciona recursos naturais. A empresa tem responsabilidades ante todas esses públicos, ainda que com diferentes níveis e prioridades.
Uma empresa responsável é aquela que harmoniza suas atividades de tal maneira que satisfaz as expectativas de todas estes públicos. É óbvio que na maioria dos casos se apresentam conflitos a curto prazo, por exemplo, tratar bem os trabalhadores tem impactos sobre a rentabilidade da empresa, apoiar à comunidade implica em custos. Para resolver estes conflitos e tomar as decisões, a empresa deve ter uma visão de longo prazo, considerando não só os custos no curto prazo (que os executivos vêem com grande clareza) mas também os benefícios tangívels e intangíveis no longo prazo (que muitos executivos são incapazes de considerar). A rentabilidade e a responsabilidade não são duas opções excludentes, na grande maioria dos casos, as práticas responsáveis são rentáveis.
Não mencionamos o cumprimento das leis e regulações vigentes no país, as quais mais do que “responsabilidade”, é parte do negócio. A responsabilidade de que falamos é o comportamento que teria a empresa se todas as leis e regulações fossem perfeitas. Ante as deficiências predominantes nos países em desenvolvimento, a empresa deve operar como se essas regras existissem. “Faz aos outros o que te agradaria que lhe fizessem a você”. Na América Latina esta amplitude da responsabilidade social é ainda muito incipiente. A região vem de uma tradição filantrópica, de assistencialismo, de apoio às comunidades e organizações através de doações, em razão da influência da igreja católica e da predominância de empresas familiares. Estas práticas são ainda muito comuns, em alguns casos como obrigação moral, em outros como uma maneira de contribuir para reduzir as desigualdades e, lamentavelmente, em muitos casos, como uma maneira de obter publicidade favorável. A filantropia não é responsabilidade da empresa, é responsabilidade individual, dos proprietários ou dos empregados. Não se deve usar os recursos coletivos de uma empresa para satisfazer aspirações de caráter individual. Não é que estejamos na contramão da filantropia corporativa, mas se fizer, deve ser feito como estratégia explicita, aprovada pelos acionistas ou proprietários. A filantropia do Bill Gates e Warren Buffet é realizada com o dinheiro deles e não com o da Microsoft ou o da Berkshire Hathaway, as quais uma partes pertence a eles próprios, mas também a muitos outros acionistas.
A verdadeira responsabilidade social é parte integral da estratégia do negócio, é uma maneira de fazer negócio. Os comportamentos responsáveis serão sustentáveis no longo prazo quando, realmente, forem parte da estratégia empresarial. Caso contrário, é passageira e oportunista, como costuma ocorrer com a filantropia corporativa.
Blog: Para muitos, a responsabilidade social é apenas um modismo, algo passageiro e, especialmente, uma ferramenta de marketing com baixo custo utilizada pelas empresas, pois apresentam impactos muito positivos junto a sociedade. Você concorda com essa afirmação? Por quê?
Antonio Vives: É lamentável, mas para muitas empresas é assim, é algo que é realizado por que está na moda, utilizado como uma ferramenta para evitar críticas, para se defender, ou por relações públicas como promoção vazia. São empresas que produzem algum tipo de dano àquelas que são, legitimamente, responsáveis. Transferem ao movimento de responsabilidade social uma má reputação. Ainda são poucas as empresas que fazem por convicção, por um desejo de melhorar a qualidade de vida das populações, de devolver à sociedade parte do que esta lhe dá. É, definitivamente, uma tarefa pendente conseguir que as empresas sejam responsáveis porque é bom negócio, legítimo e aceitável, e também positivo para a sociedade. Além disso, deve ser uma atitude consciente e não de caráter oportunista. A empresa que melhora sua reputação pagando salários justos é uma empresa responsável. Aquela que pretende melhorar sua imagem fazendo uma doação a uma causa, ainda que seja boa, com a intenção de publicar uma foto e aproveitar a promoção que gera essa doação, pode se tornar numa atitude deplorável, especialmente se depois, nas demais atuações pertinentes a qualquer empresa, não apresentar um comportamento responsável.
Blog: O Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios acredita que a ética nos negócios deve ser a base sustentável das empresas e a principal ferramenta de gestão dos valores e princípios que norteiam a verdadeira responsabilidade ética, social e ambiental a qual chamamos de “Tripla Responsabilidade Corporativa”, pois de nada adianta as empresas se dizerem socialmente responsáveis se não houver uma interação e sinergia dessas três responsabilidades que devem ser inseparáveis e andar sempre juntas. Qual sua opinião a respeito disso?
Antonio Vives: Concordo plenamente. Mas, para que uma empresa seja responsável deve antes ser rentável. Se não conseguir cobrir todos seus custos, incluindo o de capital, não pode ser uma empresa responsável, se assim o fizesse, seria uma irresponsabilidade. A responsabilidade mais importante é a de continuar operando, criando e mantendo empregos, pagando impostos e produzindo bens e serviços que a sociedade demanda. Mas há muitas maneiras de fazê-lo! Todas as atividades do negócio devem levar em conta o impacto sobre todas as partes afetadas e realiza-la de tal maneira que se maximize o impacto positivo e minimize o negativo. Essas atividades responsáveis se reforçam mutuamente, o bom trato aos empregados gera produtividade, sensibilidade ante a comunidade gera mercados, etc. A responsabilidade social e ambiental das empresas é rentável. E mais, algumas empresas fazem da responsabilidade seu negócio, por exemplo, produzindo produtos ambientalmente sustentáveis, pagando salários justos, que depois se transformam em oportunidades de vendas em mercados éticos onde se valorizam estes aspectos, como é o caso dos produtos de comércio justo.
Blog: Em função das proporções que o assunto em relação ao aquecimento global está tomando, poderá haver uma alteração do foco e da atuação empresarial da responsabilidade social para a responsabilidade ambiental? O que as empresa devem fazer para contribuir com a redução de emissões dos gases de feito estufa, visto que elas também são responsáveis por isso?
Antonio Vives: O aquecimento global tem impacto global e é o problema mais importante para os países em desenvolvimento, que tem quotas de emissões para cumprir. Para as empresas atuando em países em desenvolvimento é mais uma oportunidade do que uma obrigação. É obrigação no sentido de contribuir para se evitar um problema e no caso das grandes cidades, o problema da poluição acompanha o problema do aquecimento global e deve ser minimizado. Mas, também é uma oportunidade. Por exemplo, alguns dos projetos de geração de energia ou de eficiência energética poderiam aceder aos mercados de carbono ao Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Kioto e vender os créditos gerados por ter poupado energia ou haver produzido de maneira limpa. Para grandes projetos pode ser uma fonte de rendimentos.
A tecnologia e o incentivo ao redor da preocupação pelo aquecimento global oferece oportunidades às empresas para reduzir sua dependência de combustíveis fósseis e o mais importante, pesquisar todas as possíveis formas eficientes de poupar energia (motores mais eficientes, uso eficiente das equipes, iluminação e calefação, etc.). Diminuem os custos e contribuem para a redução do aquecimento global. Também oferecem a oportunidade de se desenvolver toda uma indústria de produtos mais limpos e eficientes, que consomem menos energia como eletrodomésticos, automóveis, etc... Ganhamos todos!
Blog: Você está escrevendo um novo livro sobre um tema bastante interessante: a responsabilidade social nos países emergentes. Existem diferenças na atuação responsável de empresas atuando nos países desenvolvidos e nos emergentes?
Antonio Vives: Existem grandes diferenças no comportamento de algumas empresas em países desenvolvidos comparado com seu comportamento em países em desenvolvimento. No primeiro caso, a empresa está bem mais sujeita aos incentivos e pressões das partes interessadas, que nos países em desenvolvimento. Os grandes compradores, alguns consumidores, os bancos, os meios de comunicação, os empregados, a sociedade civil, o governo, etc.. exercem seu poder exigindo práticas mais responsáveis das empresas. Nos países de América Latina, a pressão vem das próprias empresas, de seus executivos, de seus proprietários ou da própria matriz se forem multinacionais.
Paradoxalmente, as responsabilidades que se têm para com a sociedade e o meio ambiente em países em desenvolvimento são maiores, já que as empresas enfrentam muito mais necessidades insatisfeitas da população em função dos Estados não serem capazes ou não poderem atender essas necessidades. Para poder operar, a empresa pode ter que suprir algumas destas deficiências, mas deve fazer com cautela, cuidando de não criar dependência nem substituir o governo. Não podemos alegar que fornecer água à comunidade ou construir um campo de futebol seja “responsabilidade” da empresa, isso costuma ser responsabilidade do governo local. Não obstante, pode ser desejável para a empresa reduzir o nível de violência na comunidade onde ela opera, fomentando o esporte e a saúde, conseguindo o apoio da própria comunidade. A empresa pode se beneficiar de menos faltas e maior produtividade de seus funcionários devido a melhores políticas de recursos humanos. Note a diferença entre esta motivação como parte do negócio e aquela que seria realizada como pura filantropia. No primeiro caso é parte de uma estratégia, no segundo é uma doação, que muito provavelmente será usada para efeitos promocionais.
Blog: Peguemos uma empresa com atuação global. O senhor acredita que possa haver diferenças de atuação da subsidiária dependendo do país em que ela está? A que se deve esse fato?
Antonio Vives: Efetivamente, há diferenças. Comecemos a dizer que a responsabilidade de uma empresa global num país não deveria ser menor aquela que possui em seu país de origem. Como já comentei aqui, a empresa não deve se aproveitar, por exemplo, de que nos países em desenvolvimento enconramos normas menos estritas e deficiências na hora de torná-las efetivas. As empresas devem ter os mesmos padrões que no país da sua matriz, mas deve adaptar sua atuação responsável à realidade atual de cada país, que por muitas vezes não fazem em seu país de origem. Por exemplo, dificilmente uma empresa do Reino Unido tem que apoiar escolas primárias em seu país, mas ao operar num país em desenvolvimento pode se ver ante a “responsabilidade” de fazê-lo, para cobrir as carências do Estado e poder ter no futuro uma população mais educada, seja como consumidor ou como futura mão de obra.
Blog: Em geral, como você vê a atuação responsável das empresas em atuação no Brasil em relação as da América Latina? E em relação à Europa e Estados Unidos?
Antonio Vives: Os temas sobre a atuação responsável está tomando corpo na América Latina e em particular no Brasil. No entanto, ainda se limita às grandes empresas, especialmente às empresas globais. Para as pequenas e médias empresas as atuações responsáveis se limitam as atuações que são as mais naturais e não são estratégicas, como o são as relações laborais e o consumo de alguns insumos, como água e eletricidade.
O Brasil é um dos países mais avançados na América Latina em relação a atuação responsável das grandes empresas, muitas delas globais. No caso da pequena e média empresa, o Brasil está relativamente atrasado com respeito a outros países da região, basta para isso, analisarmos os dados em nosso livro Responsabilidade Social nas Pequena e Médias Empresas. A América Latina como região ainda esta muito atrás da Europa, particularmente dos países do norte europeo. Estados Unidos e Europa Latina (França, Espanha, Itália e Grécia) estão um pouco menos avançados, ainda que o incentivo dos mercados internacionais (de bens e de capitais), dos consumidores e em especial da sociedade civil faz com que estejam muito mais avançados que nós.
Blog: Sempre escutamos falar que os stakeholders é que irão determinar quais as empresas que sobreviverão no futuro. Você concorda com isso? Por quê?
Antonio Vives: Sim concordo, porém ainda passarão muitos anos antes de que isto seja uma realidade. Nos países em desenvolvimento esses stakeholders são desinformados e não podem exercer seu papel como deveriam. Os clientes não têm informação para tomar decisões que favoreçam às empresas responsáveis, os meios de comunicação não denunciam às empresas irresponsáveis, os bancos não as questionam antes de fazer um empréstimo, os governos tentam mas encontram dificuldades em fazer com que elas cumpram as regras. De certa forma, o público que mais se desenvolveu nos últimos anos é a sociedade civil, as organizações não-governamentais, que atuam como controladores e incentivadores do comportamento responsável (ainda que algumas destas organizações deveriam ouvir seus próprios conselhos).
Não obstante neste panorama mais ou menos sombrio, há uma luz no fim do tunel, ainda há esperança. Os executivos e os funcionários das empresas estão tomando consciência das vantagens da responsabilidade. Cada dia há mais publicações que se encarregam de denunciar casos negativos e realçar casos positivos. Há bancos, em atuação no Brasil, que são líderes mundiais em comportamento responsável. De fato os únicos bancos na América Latina que assinaram os Princípios do Equador sobre financiamento responsável, são brasileiros. Há esperança de que os stakeholders se desenvolvam e pouco a pouco cada um cumpra sua função nesse mercado da responsabilidade.
Blog: Em sua opinião quais os caminhos que as empresas tem que percorrer para conquistarem a tão sonhada sustentabilidade nos negócios?
Antonio Vives: A primeira etapa para a resolução de um problema é o reconhecimento de que existe um problema. As empresas devem começar tomando consciência de que a responsabilidade, além de ser uma obrigação moral, é um imperativo dos negócios. Pode ser rentável. Como em todo mercado, os que chegam antes podem conquistar uma parcela maior dos benefícios. O que não é mau. Atuam como líderes e depois podem servir de modelo para outros e, se as condições são favoráveis, estender as praticas responsáveis a mais empresas.
A melhor maneira de se começar é com o convencimento dos executivos ou dos proprietários das empresas, para depois analisar o impacto que suas atividades tem na sociedade e no meio ambiente, estabelecendo metas realistas de melhoria nas condições da operação e, na medida do possível, o impacto sobre os custos e benefícios. Neste ultimo caso, é importante ter uma visão de longo prazo, evitar a visão de curto prazo, e considerar todos os benefícios, não só os mensuráveis. Os custos costumam aparecer como tangíveis, mensuráveis e imediatos, enquanto os benefícios costumam ser percebidos como intangíveis, de difícil mensuração e de longo prazo.
Uma boa fonte de idéias são os relatórios de sustentabilidade de outras empresas. Há vários deles no site www.corporateregister.com.
Blog: Quais os conselhos que você poderia deixar aos empresários e executivos das empresas em atuação no Brasil, especialmente aos jovem-executivos que serão os "líderes socialmente responsáveis" de amanhã?
Antonio Vives: Que não sejam desinformados, que a pressão pelos benefícios de curto prazo pode ser inimiga da sustentabilidade da empresa no longo prazo. O executivo de sucesso é aquele que, verdadeiramente, tem uma visão de longo prazo e ampliada, sobretudo no aspecto da atuação da empresa. Ser responsável com a sociedade e o meio ambiente é rentável no longo prazo... E, pelo menos nos permite dormir com a consciência tranqüila.
Blog: Queremos agradecer imensamente o Antonio Vives por ter aceito nosso convite e pela agradável entrevista que nos enriqueceu com seus conhecimentos. Muito obrigado.
Antonio Vives: Eu que agradeço e parabenizo vocês pelo excelente trabalho de divulgação e promoção da responsabilidade corporativa. CEO do DDS do BID
Nome: Antonio Vives
Idade: 43 anos
Aniversário: 8/set
Uma grande emoção: Os casamentos de meus filhos
Um sonho realizado: Escrever um livro
Uma meta futura: Escrever outro livro
A maior paixão: Ensinar
Melhor livro: Enciclica Centesimus Annus, João Paulo II, um tratado de responsabilidade social
Pontos fortes: Confiável
Pontos fracos: Impaciente