Blog: Gostaríamos de abrir esta entrevista conhecendo o Paulo Skaf cidadão, empresário e o presidente de uma das mais importantes e influentes instituições deste país: a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo - Fiesp. Fale um pouco do senhor.
Paulo Skaf: Sou um cidadão que ama este país e luta muito por seu desenvolvimento. Defendo esta meta como a causa maior de cada um dos brasileiros e de toda a Nação. É com este espírito e compromisso ético que pautamos nossa gestão na Fiesp.
Blog: A Fiesp é a entidade máxima de representação da indústria paulista e tem como objetivo tornar este importante segmento mais competitivo. Quais são os principais obstáculos encontrados e quais os desafios para superá-los? E, qual a participação e contribuição dos governos neste sentido?
Paulo Skaf: Os principais obstáculos enfrentados pela indústria e as instituições que a defendem, como a Fiesp e a CNI, são os mesmos que atormentam todos os segmentos produtivos de nosso país: uma política econômica extemporânea, permeada pelos mais altos juros do mundo, câmbio irreal, impostos exagerados, ausência de políticas mais ousadas visando ao desenvolvimento, burocracia excludente, legislação trabalhista onerosa e inflexível, penosos gargalos de infra-estrutura, tudo isto se somando para desestimular e tornar mais cara a produção e menos competitiva nossa economia.
Quanto à participação/contribuição dos governos para superar esses obstáculos, não é possível analisar isto de modo tão linear. O Governo Federal, é verdade, tem insistido, nos últimos 12 anos, em manter o monetarismo exacerbado como remédio contra a inflação. Nesse sentido, podemos dizer que tem atrapalhado o País, pois tal modelo já se esgotou como solução no mundo globalizado. Precisamos de uma política econômica mais ousada, criativa e com olhar mais amplo. A Fiesp tem realizado numerosos estudos e os colocado à disposição das autoridades competentes, além de cobrar soluções.
Chamo isto de exercício legítimo da autoridade produtiva. Pode-se dizer que quando os governos - da União, estados e municípios - acolhem sugestões pertinentes da sociedade, estão ajudando na solução dos problemas.
Blog: Além das 133 entidades sindicais filiadas - representando os mais diversos segmentos da indústria paulista - sabemos que a Fiesp é integrante da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e, também o Sistema Fiesp engloba e disponibiliza inúmeros serviços através do Sesi (Serviço Social da Indústria) e do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). O senhor pode comentar sobre cada uma destas instituições e o que elas contribuem para o cumprimento dos objetivos da Fiesp?
Paulo Skaf: A CNI é a entidade nacional da indústria, com a qual o Sistema Fiesp mantém absoluta sinergia na defesa do setor e do desenvolvimento brasileiro.
Os sindicatos aos quais você refere-se são a própria razão de existir da Fiesp. São eles os legítimos representantes de cada segmento da indústria paulista e a eles nos reportamos em cada passo em defesa de nosso setor.
No tocante ao Senai-SP, a capacitação profissional e a assistência técnica e tecnológica que disponibiliza às empresas são ferramentas estratégicas para as indústrias que desejam oferecer diferenciais tecnológicos e respostas rápidas e eficientes a seus clientes. Anualmente, são emitidos cerca de 800 mil certificados de conclusão nos diversos cursos e treinamentos, que abrangem: Aprendizagem Industrial, para jovens de 14 a 24 anos, em 38 áreas ocupacionais; Cursos Técnicos, de nível médio, em 41 habilitações; Formação continuada, treinamentos de curta duração para especialização e aperfeiçoamento de trabalhadores da indústria; Faculdades de Tecnologia - formação de tecnólogos, em nível superior e Pós-Graduação, nas áreas: Ambiental, Vestuário, Tecnologia Gráfica e Mecatrônica. O Senai-SP é uma das maiores instituições do gênero do País.
Quanto ao
Sesi-SP, precursor no desenvolvimento de ações de responsabilidade social empresarial, está presente em 115 municípios paulistas, por meio de 211 centros educacionais e 51 Centros de Atividades. É a maior rede de ensino privado do País. Atende 125 mil alunos por ano, matriculados nos cursos de Educação Infantil e Ensino Fundamental. Em nossa gestão, estamos implementando o Ensino Médio. Aos jovens e adultos que não tiveram a oportunidade de concluir seus estudos na idade convencional, a instituição ministra cursos especiais, ofertando mais de 60 mil vagas por ano. Além disto, o Sesi-SP mantém amplos programas de saúde, esportes, lazer, cultura e alimentação, acessíveis aos industriários, suas famílias e também à comunidade.
Blog: O Instituto Roberto Simonsen (IRS) é o espaço de discussão de idéias nos campos político, econômico, jurídico e social da indústria. O IRS é formado por quem e qual a sua importância?
Paulo Skaf: Em nossa gestão, consideramos o Instituto Roberto Simonsen tão importante, que eu próprio, como presidente da Fiesp, também o presido. O IRS é um centro de estudos avançados, gerador de idéias e indutor de projetos culturais, hoje integrado por algumas das mais lúcidas mentes deste país. É responsável pela publicação de pesquisas, documentos e obras literárias e a promoção de palestras e seminários, como o Fórum Euro-Latino-Americano, que já teve três edições, uma delas em Lisboa, Portugal. O IRS coordena, também, as reuniões dos Conselhos Superiores Temáticos – órgãos técnicos estratégicos, cuja função é promover o debate e análise de questões relevantes para a indústria de São Paulo e do Brasil. Integrados por cientistas políticos, intelectuais e figuras de destaque no cenário político e econômico brasileiro, os Conselhos Superiores são responsáveis pelas diretrizes estratégicas da Fiesp.
Na atual gestão, o diálogo institucional entre o setor produtivo e o Poder Legislativo foi significativamente ampliado. Deputados e senadores têm participado das reuniões dos Conselhos, na qualidade de convidados especiais da Presidência. De outro lado, a Fiesp mantém escritório em Brasília, visando a acompanhar a tramitação de projetos de lei ou emendas constitucionais de interesse do setor produtivo. Toda essa relação, sempre permeada pela liberdade e pela independência das partes.
Blog: Quais os principais serviços que a Fiesp presta aos seus associados?
Paulo Skaf: A atual estrutura da Fiesp reflete o pensamento estratégico e o tratamento homogêneo que confere às várias cadeias produtivas e aos sindicatos, independentemente do porte das empresas ou do segmento a que pertencem. Para tanto, foram criados, na atual gestão, os Comitês de Cadeias Produtivas - fóruns de análise de desempenho, fatores críticos e necessidades, com vistas ao crescimento setorial harmônico em cada sistema industrial, nos aspectos institucional, organizacional, técnico e tecnológico.
A Fiesp mantém articulações com os principais agentes setoriais, públicos ou privados, fazendo-se representar em mais de uma centena de fóruns, de âmbito estadual e nacional.
Eis alguns outros importantes serviços da entidade: orientação ao investidor estrangeiro; consultoria sindical e jurídica; Certificado de Origem, necessário na exportação, emitido em apenas 24 horas; orientação técnica e assessoria em comércio exterior; ações para o fortalecimento das micro, pequenas e médias indústrias; parcerias para aumentar a oferta de crédito e orientar nas questões de financiamento; divulgação das licitações do setor público, facilitando a participação das indústrias; programas ambientais; e aprimoramento tecnológico.
Blog: Existem regionais da Fiesp em todo o Estado de São Paulo? Quais são suas principais atribuições e atividades junto às indústrias locais?
Paulo Skaf: Em nossa gestão, criamos o Departamento Regional (Depar). O propósito foi justamente o de levar a todo o Estado, por meio de Diretorias Regionais, os serviços aos quais nos referimos na questão anterior.
Costumo dizer que, em nossa administração, a Fiesp deixou de ser uma entidade da Avenida Paulista, transformando-se, de fato, numa entidade paulista. São mais de 50 regionais cobrindo todo o estado.
Blog: Quando falamos em indústria, imediatamente pensamos nas grandes empresas. A micro, pequena e média indústria também pode fazer parte da Fiesp? Existem serviços direcionados e na medida certa para este pequeno empresário? Como ele pode proceder para se filiar à Fiesp?
Paulo Skaf: Claro que as pequenas e microempresas podem fazer parte da Fiesp. E fazem! Devem filiar-se por meio dos sindicatos representativos de seus segmentos industriais. Em nossa gestão, uma das prioridades é a pequena e microempresa. Em sua defesa, temos atuado ao lado do Sebrae-SP e do Sebrae-Nacional. A mobilização da Fiesp foi decisiva para o encaminhamento e aprovação, na Câmara dos Deputados e no Senado, da Lei Geral da Micro e da Pequena Empresa, que melhorará muito as condições para a sua criação e desenvolvimento.
Blog: Acreditamos que o desenvolvimento econômico e o crescimento devam estar alicerçados no desenvolvimento sustentável que tem nas melhores práticas empresarias - aquelas que envolvem a ética nos negócios e a responsabilidade social e ambiental - seus pilares para a sustentabilidade, inclusive contribuem para a sobrevivência da própria empresa. Qual a participação da Fiesp neste ponto e quais as estratégias e ferramentas oferecidas às indústrias para auxiliá-las na formulação e implantação de uma política voltada para a Responsabilidade Social Corporativa (RSC)?
Paulo Skaf: A Fiesp tem-se pautado pela disseminação da ética e da responsabilidade social como pressupostos inalienáveis do desenvolvimento da indústria e do País. Exemplo disto se expressa no posicionamento e nas ações da entidade no campo ambiental. Entendemos que administrar de maneira eficiente o passivo ambiental é questão prioritária para a sustentabilidade das indústrias. Consciente desse compromisso, a Fiesp assessora os sindicatos e empresas associadas no cumprimento dos requisitos ambientais, conciliando-os com os interesses e negócios da indústria. Dentre as várias ações institucionais, a entidade organiza anualmente a Semana do Meio Ambiente, seminário internacional com workshops e entrega do Prêmio Fiesp do Mérito Ambiental. Visando a estimular o consumo racional e a preservação dos mananciais hídricos, criamos o Prêmio Fiesp de Conservação e Reúso da Água. A meta é difundir boas práticas e medidas efetivas na redução do consumo e desperdício.
Blog: Já que estamos falando de meio ambiente. Uma das grandes preocupações do mundo atualmente é com o Aquecimento Global ocasionado pelo efeito estufa em razão do excesso de emissão de gases, especialmente o CO², na atmosfera terrestre. Esses gases são emitidos, em sua maioria, por veículos e pelas indústrias. Qual tem sido o posicionamento da indústria paulista neste sentido? E qual será a contribuição da Fiesp?
Paulo Skaf: Preocupação, aliás, muito justificada. Afinal, em setembro último, a Nasa, numa assustadora notícia, informou o mundo sobre o lamentável recorde do buraco na camada de ozônio. O risco é real! A indústria paulista, com todo o empenho e apoio da Fiesp, conforme explicitei anteriormente, busca cada vez mais o caminho da produção limpa, incluindo processos para mitigar a emissão dos gases do efeito-estufa. Isto é primordial.
Blog: Isso vale para qualquer segmento da indústria independente do seu porte? Por quê?
Paulo Skaf: Os compromissos com o ético, a responsabilidade social, a consciência ecológica e a sustentabilidade das atividades econômicas são valores inexoráveis dos sistemas produtivos e, portanto, de toda a ação da Fiesp.
Blog: O senhor pode comentar sobre as diretrizes e importância do ConSocial da Fiesp e qual sua importância neste contexto?
Paulo Skaf: Para tratar deste importante tema, a Fiesp constituiu o ConSocial - Conselho Superior de Responsabilidade Social Empresarial sob a coordenação do ex-ministro Paulo Renato de Souza, e integrado por personalidades como, por exemplo, Viviane Senna, fundadora e presidente do Instituto Ayrton Senna (IAS). Entendida como ferramenta para a competitividade, o crescimento e o lucro, a responsabilidade social vem sendo disseminada como instrumento de gestão de negócios, capaz de gerar resultados e benefícios para os trabalhadores e a comunidade, sobretudo para a empresa. Para isso, o Sistema Fiesp utiliza duas importantes ferramentas de difusão das boas práticas: o Programa Sou Legal, de combate à informalidade e à não-conformidade técnica dos produtos, e o Programa SESI de Qualidade no Trabalho (PSQT).
O PSQT oferece um diagnóstico gratuito para a empresa sobre as possibilidades de melhoria em sua gestão para gerar lucro e empregos, garantir a sustentabilidade da indústria, ter colaboradores satisfeitos e produtivos e, dessa forma, contribuir para o bem-estar social. As 100 empresas participantes da edição 2006, entregamos o Relatório de Consultoria.
Blog: Sabemos que o Brasil terá enorme destaque global nos Créditos de Carbono. O senhor pode explicar sobre este novo mercado e como as indústrias participantes contribuirão para a preservação do meio ambiente? E existem benefícios financeiros com esses créditos?
Paulo Skaf: Os créditos de carbono foram instituídos no âmbito do Protocolo de Kioto. Em síntese: as empresas brasileiras emissoras dos gases do efeito-estufa que realizarem projetos comprovadamente capazes de reduzir ou extinguir tais emissões podem vender essa equivalência em créditos de carbono. Isto significa exportar consciência ecológica, com direito a ganhar dinheiro com esta virtude.
Até 2012, quando terminará o primeiro período de compromisso do Protocolo de Kioto, é importante que o Brasil possa desenvolver todo o seu potencial no desenvolvimento desses projetos de produção limpa, que geram divisas e empregos, além de contribuírem para a melhoria da qualidade de vida das comunidades.
Blog: Para finalizar este nosso bate papo. Qual o conselho que poderia ser dado aos futuros empresários quanto à importância e os benefícios de uma Gestão Responsável bem como da Ética nos Negócios?
Paulo Skaf: Vale a pena cultivar e praticar esses valores. Nosso país será tão bom quanto a nossa capacidade de promover o seu desenvolvimento sobre o alicerce da ética, justiça social, ambiente saudável e qualidade de vida.
Blog: Queremos agradecer a participação do Sr. Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) no Blog Ética nos Negócios e dizer que este espaço estará sempre à sua disposição.
Paulo Skaf: A satisfação é toda nossa! Até a próxima oportunidade e um abraço a todos.